Bitcoin para empresas: um diferencial competitivo

Produzido dia 14 de julho de 2025

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Nos últimos anos, o Bitcoin deixou de ser apenas um ativo alternativo para se tornar parte da estratégia de grandes empresas. Antes classificado apenas como um ativo intangível nos balanços, ele agora começa a assumir um novo papel: diferencial competitivo.

Empresas visionárias estão percebendo que não se trata apenas de proteger o poder de compra. Ter Bitcoin na tesouraria pode atrair investidores alinhados, oferecer acesso a novas formas de crédito, posicionar a marca como inovadora e até abrir portas para vantagens fiscais e operacionais no futuro.

No Bipa Pills de hoje, vamos discutir o movimento de empresas colocando Bitcoin em seus balanços e mostrar como essa estratégia faz sentido para empresas de todos os tamanhos, seja uma empresa listada na bolsa, seja um pequeno consultório.

Para isso, vamos falar de:

  • As Bitcoin Treasuries Companies
  • O início do movimento com a Strategy
  • Essa estratégia funciona para empresas menores?
  • Os riscos que podem envolver essa estratégia
  • Como as PJs devem tratar o Bitcoin do ponto de vista contábil?

Então pegue seu café e boa leitura!

O que são as Bitcoin Treasuries Companies

Bitcoin Treasuries Companies é o termo utilizado para descrever as empresas que alocam parte de seus caixas ou reservas em Bitcoin como estratégia de tesouraria. Ao invés de manter todo seu capital ocioso em moeda fiduciária ou instrumentos tradicionais de baixo rendimento, essas empresas optam por converter parte de seus ativos líquidos em BTC, acreditando no seu potencial como reserva de valor de longo prazo.

Esse movimento teve início de forma simbólica em 2020, quando a MicroStrategy, liderada por Michael Saylor, anunciou a conversão de uma parte significativa do seu caixa em Bitcoin. Na época, a justificativa era simples: proteger o capital contra a inflação e a desvalorização do dólar em um cenário de impressão monetária recorde. A estratégia, inicialmente vista com ceticismo, ganhou destaque à medida que o preço do Bitcoin se valorizou e a posição da empresa passou a representar bilhões de dólares.

Nos anos seguintes, algumas empresas seguiram o exemplo, mas o movimento se manteve relativamente pontual — até que, em 2024, com a aprovação dos ETFs de Bitcoin à vista nos Estados Unidos, o contexto mudou. A entrada de capital institucional no mercado trouxe mais legitimidade, liquidez e segurança para a adoção corporativa do ativo.

Em 2025, o movimento está em pleno vapor. Empresas como Méliuz, Semler Scientific, Twenty One Capital anunciaram compras estratégicas de BTC. Outras, como a própria MicroStrategy e Metaplanet, intensificaram ainda mais suas posições, agora utilizando emissões de dívida e instrumentos financeiros sofisticados para ampliar suas reservas. Essa nova fase do movimento indica que o Bitcoin deixou de ser um experimento isolado e se tornou, para muitas companhias, um elemento central da política financeira corporativa, ou seja, uma decisão estratégica de longo prazo com implicações em branding, acesso a capital, governança e visão de futuro.

No último mês, o total de BTCs em custódia de empresas cresceu 2,43% e 23 novas empresas começaram a executar essa estratégia

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O crescimento dessa estratégia de alocação em Bitcoin no último mês. Fonte: Bitcoin Treasuries

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As 60 empresas com mais BTCs no balanço. Fonte: Bitcoin Treasuries

O início do movimento com a Strategy

O movimento corporativo de acumulação de Bitcoin teve um ponto de inflexão em 2020, quando a MicroStrategy, hoje rebatizada como Strategy, iniciou a conversão de seu caixa em BTC sob a liderança de Michael Saylor. O que parecia, na época, um gesto isolado de proteção contra inflação, acabou se transformando em um modelo replicável de integração entre o mercado financeiro tradicional e a escassez programada do Bitcoin. Essa jornada se desenvolveu em três fases distintas, que explicam como a Strategy se tornou a maior detentora institucional de BTC do mundo (se você quiser saber mais sobre a MicroStrategy, veja este artigo).

Na Fase Fundacional (2020–2024), a empresa substituiu parte do caixa por Bitcoin como forma de proteção patrimonial. Com uma comunicação clara e pública, testou instrumentos financeiros como debêntures conversíveis e recompras de ações para expandir a posição. Essa fase consolidou a tese de que o BTC era uma reserva de valor superior ao dólar e ao ouro.

A Fase de Aceleração Alavancada começou no final de 2024. A empresa anunciou a emissão de 21 bilhões de dólares em ações e outros 21 bilhões de dólares de dívidas com o único propósito de comprar mais Bitcoin. A posição da empresa mais que dobrou em poucos meses durante essa fase.

A partir de junho de 2025, tem início a Fase de Engenharia Financeira Avançada. A Strategy passou a criar instrumentos próprios, como ações preferenciais (STRK, STRD, STRF) com diferentes perfis de risco e yield. Isso permitiu que a empresa continuasse acumulando BTC sem diluir os acionistas da MSTR.

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Com isso, a Strategy não só acumulou Bitcoin — ela criou uma nova categoria de empresa pública e pavimentou o caminho para o surgimento das chamadas Bitcoin Treasuries Companies. Hoje, uma centena de empresas públicas e privadas tentam imitar o playbook executado pelo Michael Saylor e a Strategy.

E essa estratégia funciona para empresas menores?

A estratégia de acumulação de Bitcoin como tesouro empresarial não é exclusividade de grandes corporações listadas em bolsa. Pequenas empresas também podem se beneficiar de poupar em um ativo escasso, descentralizado e resistente à inflação, mesmo sem acesso aos instrumentos financeiros sofisticados utilizados por empresas como a MicroStrategy.

Um exemplo notável é o da rede de restaurantes canadense Tahini’s, um negócio familiar que decidiu converter seus lucros excedentes em Bitcoin a partir de 2020. Sem emitir dívidas ou ações, os fundadores simplesmente perceberam que manter seu caixa em dólares canadenses os expunha à perda de poder de compra — especialmente diante do aumento da base monetária promovido pelos bancos centrais durante a pandemia. A resposta foi simples: poupar em um dinheiro melhor.

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Desde então, o Tahini’s tem alocado sistematicamente parte de seus lucros em Bitcoin, adotando uma estratégia similar ao que grandes empresas fazem, mas adaptada à sua realidade. Em vez de deixar o capital parado em contas bancárias, eles armazenam valor em BTC, com foco no longo prazo. Segundo os próprios fundadores, essa decisão os ajudou a proteger sua reserva de valor e a enfrentar a inflação com mais resiliência.

A lição do Tahinis é clara: não é preciso ter bilhões para se beneficiar de uma política de tesouraria baseada em Bitcoin. Pequenas empresas podem adotar uma mentalidade de preservação de riqueza onde o objetivo não é especular, mas sim proteger o fruto do trabalho contra a desvalorização monetária crônica que atinge moedas fiduciárias no mundo todo.

Quais os riscos que essa estratégia possui?

Alocar parte do caixa da empresa em Bitcoin pode ser uma estratégia poderosa de preservação de valor, mas também envolve riscos que precisam ser geridos com responsabilidade. O primeiro e mais evidente é a volatilidade. O preço do Bitcoin pode oscilar significativamente em curtos períodos, com quedas de 20%, 30%, 50% ou mais. Para empresas que não estão preparadas para lidar com essas oscilações, isso pode gerar instabilidade financeira ou até decisões precipitadas de venda no pior momento possível.

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A imagem com as correções que o Bitcoin já passou na sua história ilustra bem a questão da volatilidade do ativo. Fonte: Check Onchain

Outro risco importante é o da custódia mal feita. Como o Bitcoin é um ativo que não depende de intermediários, ele exige cuidados específicos com segurança. Senhas fracas, chaves privadas mal armazenadas, ausência de backup ou até negligência no controle de acesso podem levar à perda definitiva dos fundos. Diferente de um banco tradicional, não há atendimento ao cliente nem reversão de transações e uma falha de segurança pode ser fatal.

Também é necessário considerar o risco contábil e regulatório. O tratamento do Bitcoin como ativo intangível ou tangível ainda gera debates, o que pode gerar distorções na contabilidade. Atualmente ainda não existe uma norma clara que orienta o tratamento do Bitcoin no balanço das empresas. Além disso, mudanças na legislação fiscal podem impactar as obrigações da empresa.

Para mitigar esses riscos, recomenda-se:

  1. Alocar apenas uma fração do caixa, preferencialmente sem comprometer o capital de giro.

  2. Estabelecer uma política clara de custódia segura, com múltiplas camadas de proteção, incluindo backups offline e controle de acesso restrito.

  3. Buscar orientação contábil e jurídica especializada, garantindo conformidade com a legislação vigente.

  4. Educar os responsáveis financeiros da empresa sobre boas práticas no uso e na gestão de ativos digitais.

Com prudência e visão de longo prazo, é possível capturar os benefícios do Bitcoin como reserva estratégica sem expor o negócio a riscos excessivos.

Por essa semana é só, bom final de semana e até o próximo Bipa Pills


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