Bitcoin vs. Altcoins em 2025

Produzido dia 11 de fevereiro de 2025

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Pontos Principais do artigo:

1. Dominância do Bitcoin e Ethereum
A reconfiguração do mercado cripto nos últimos três anos mostra uma clara tendência de concentração. O Bitcoin fortaleceu significativamente sua posição, aumentando sua dominância de 40% para 59% do mercado total. Simultaneamente, o Ethereum perdeu relevância relativa, caindo de 18% para 10%, enquanto todas as outras criptomoedas combinadas viram sua participação reduzir de 42% para 30%. Esta redistribuição de poder reflete diretamente o impacto da institucionalização do mercado.
2. Transformação do Mercado
A aprovação dos ETFs de Bitcoin à vista marcou uma nova era para o mercado cripto, consolidando a presença institucional no setor. Este capital institucional demonstra clara preferência por ativos estabelecidos e regulados, favorecendo principalmente o Bitcoin. O ambiente regulatório mais rigoroso e a necessidade de conformidade levaram a um novo paradigma de alocação, caracterizado por decisões mais conservadoras e fundamentadas em análises tradicionais de risco.
3. Fluxos de capital diferentes
A estrutura dos ETFs de Bitcoin cria uma barreira significativa para o fluxo de capital em direção às altcoins, diferentemente do que ocorria em ciclos anteriores. Quando investidores compram Bitcoin diretamente em exchanges de criptomoedas, eles podem facilmente realocar esse capital para altcoins na mesma plataforma. No entanto, o investimento em Bitcoin via ETF é negociado apenas em mercados tradicionais. Esta segregação estrutural impede que o grande volume de capital institucional que entra através dos ETFs seja rotacionado e participe do mercado mais amplo de criptomoedas, efetivamente reduzindo o potencial de transbordamento que historicamente alimentava as altseasons.
4. Ausência do Varejo
Os indicadores de participação do varejo mostram um cenário de apatia generalizada. As métricas de busca no Google por termos relacionados a criptomoedas alternativas permanecem significativamente abaixo das máximas históricas de ciclos anteriores. A queda acentuada nas visualizações de conteúdo sobre altcoins, combinada com volumes reduzidos em exchanges descentralizadas e pares alternativos, evidencia a ausência do capital especulativo de varejo que tradicionalmente impulsionava o mercado.
5. Perspectivas para Altseason
A análise dos dados atuais sugere que o momento da altseason ainda não chegou, e possivelmente não chegará nos moldes anteriores. A liquidez reduzida em tokens de menor capitalização, combinada com a mudança estrutural do mercado, cria um ambiente desfavorável para os ciclos especulativos tradicionais. O capital institucional, agora dominante, demonstra pouco interesse em alimentar a especulação generalizada característica das altseason passadas.
6. Novo Cenário do Mercado
O mercado cripto evoluiu para um modelo mais estratificado e maduro, com clara distinção entre o Bitcoin e as demais criptomoedas. Esta nova realidade exige uma recalibração das expectativas dos investidores, especialmente aqueles que ainda esperam pela repetição dos ciclos especulativos do passado. A seletividade do mercado e a predominância do capital institucional sugerem que o futuro será marcado por uma dinâmica fundamentalmente diferente dos ciclos anteriores.



Há três anos, a dominância do bitcoin era de 40% e hoje ultrapassa 61%. O ETH representava 18% do valor total no mercado cripto, hoje é cerca de 10%. Todas as outras moedas combinadas caíram de 42% para 29% do valor total. Enquanto isso, existem milhões de novas moedas, com milhares de novas moedas lançadas todos os dias.
Essa mudança dramática na estrutura do mercado cripto levanta questões importantes sobre o futuro das altcoins. Com a institucionalização do mercado e a aprovação dos ETFs de Bitcoin à vista nos EUA, o comportamento dos investidores parece estar mudando fundamentalmente. A crescente preferência por ativos mais estabelecidos e regulados sugere que o fenômeno "_altseason_", tão característico dos ciclos anteriores, pode estar se transformando em algo diferente em 2025.

O Bitcoin e as Altcoins

Quando as pessoas começam a explorar o mundo das criptomoedas, é comum tratarem "Bitcoin" e "cripto" como sinônimos, usando os termos de forma intercambiável. Foi o meu caso e provavelmente foi (ou ainda é) o seu. Esta confusão inicial é compreensível, já que à primeira vista todas as moedas digitais parecem variações do mesmo conceito: ativos digitais baseados em blockchain que prometem revolucionar o sistema financeiro tradicional.
No entanto, conforme o conhecimento se aprofunda, as diferenças fundamentais entre Bitcoin e as altcoins começam a se tornar evidentes. Os iniciantes passam a perceber que o Bitcoin possui características únicas em termos de descentralização, segurança e imutabilidade do seu conjunto de regras que o distinguem significativamente das demais criptomoedas. Esta compreensão geralmente leva a uma mudança na forma como as pessoas enxergam o ecossistema cripto como um todo.
Neste ciclo de mercado atual, temos observado uma separação ainda mais pronunciada entre o Bitcoin e as altcoins, como são chamadas as criptomoedas que não são o Bitcoin, algo que fica evidente ao analisarmos a evolução do valor de mercado de ambos os segmentos. O Bitcoin tem se destacado como uma classe de ativo própria, enquanto as altcoins seguem uma dinâmica distinta.
market cap bitcoin altcoin Imagem 1. Comparação entre a evolução do market cap do Bitcoin (em vermelho) e das demais altcoins somadas (em amarelo) em valor absoluto de mercado.
market cap bitcoin altcoins Imagem 2. Comparação entre a evolução do market cap do Bitcoin (em vermelho) e das demais altcoins somadas (em amarelo) em porcentagem de valorização desde o fundo a mínima do ciclo, no dia 14 de novembro de 2022.
Neste artigo, vamos explicar sucintamente o que são altcoins, memecoins, suas diferenças fundamentais em relação ao Bitcoin, se vale a pena fazer trade com altcoins para acumular mais Bitcoin. Também vamos explorar os fatores que estão impulsionando esta divergência crescente e porque este ciclo aparentemente representa um ponto de inflexão importante para o mercado cripto como um todo.

As Altcoins

Uma altcoin (alternative coin) é qualquer criptomoeda que não seja o Bitcoin. O termo surgiu para designar todas as moedas digitais criadas após o Bitcoin, a primeira criptomoeda. Estas moedas alternativas geralmente dizem buscar oferecer melhorias ou funcionalidades diferentes do Bitcoin, como maior velocidade de transação, maior privacidade ou capacidade de executar contratos inteligentes.
Existem milhares de altcoins, cada uma com suas características específicas. Algumas das mais conhecidas incluem Ethereum (focada em contratos inteligentes e aplicações descentralizadas), Litecoin (que busca transações mais rápidas), Monero (focada em privacidade) e Cardano (que enfatiza pesquisa acadêmica e sustentabilidade).

Enquanto o Bitcoin é frequentemente visto como uma reserva de valor digital ou "ouro digital", as altcoins geralmente dizem tentar resolver problemas específicos ou criar novos casos de uso para a tecnologia blockchain. 4821daef-0387-4404-973f-eb6da577c4b7_900x500.jpg Imagem 3. Representação de diversas criptomoedas como o Bitcoin e as altcoins Litecoin, Ethereum e Monero.
Existem muitas visões críticas a respeito das altcoins, que são conhecidas e muitas vezes chamadas dentro do ecossistema cripto como shitcoins. A descrição acima foi uma descrição agnóstica delas, a seguir, no restante desta seção, vou fornecer uma descrição menos isenta sobre as altcoins.

As altcoins são todas imitações inferiores, criadas geralmente por oportunistas que tentam replicar o sucesso do Bitcoin e se aproveitar da reputação que o ativo trouxe para a palavra "criptografia", que é usada na sua forma abreviada "cripto”. Estas moedas alternativas são comercializadas com promessas vazias de melhorias técnicas ou funcionalidades adicionais, mas na realidade são apenas esquemas para enriquecer seus criadores através da venda de tokens sem valor real, o que é conhecido no ecossistema pejorativamente como "tokenomics”(algo como economia dos tokens).

É o equivalente do coach quântico, onde uma pessoa pega emprestado a reputação de inteligência da palavra “quântico” possui devido a sua origem na física quântica para promover seu coachings.

Enquanto o Bitcoin surgiu de forma orgânica e com um criador anônimo que desapareceu sem extrair valor do projeto, todas as altcoins têm times fundadores que mantém grandes quantidades de tokens pré-minerados, venture capitalists que compraram a preços baixos, e toda uma estrutura de marketing para vender narrativas falsas de inovação. Seja Ethereum com suas promessas de "computador mundial" e “ultra sound money”, Cardano com seu verniz acadêmico, ou Solana com suas alegações de escalabilidade, todas são apenas variações do mesmo esquema.

A verdade é que nenhuma altcoin conseguiu replicar as características fundamentais que fazem do Bitcoin uma inovação genuína: descentralização real, distribuição justa, imutabilidade verdadeira e escassez digital absoluta. Todas as alegadas "melhorias" das altcoins vêm com compromissos fatais de segurança, centralização ou escalabilidade que as tornam fundamentalmente falhas.

Um adendo importante: aqui não estamos incluindo as stablecoins como altcoins como altcoins. Particularmente, eu as considero como uma categoria própria dentro do ecossistema cripto de forma mais ampla. As stablecoins são inovações reais com uma proposta de valor clara e bem definida e com grande adoção orgânica ao redor do mundo, em especial nos países com sistemas financeiros mais precários.

Memecoin, as Irmãs Niilistas das Altcoins

As memecoins representam uma manifestação do niilismo que se instalou no ecossistema cripto após sucessivos golpes executados por projetos de altcoins maliciosos que supostamente iriam revolucionar alguma coisa. O valor das memecoins não deriva de promessas tecnológicas ou utilidade prática, pois elas nem tentam realizar discursos de marketing bonitos para atrair incautos, mas sim da aceitação coletiva de sua própria absurdidade. Diferentemente das altcoins tradicionais, que se esforçam para apresentar casos de uso inovadores e soluções técnicas sofisticadas, as memecoins abraçam abertamente sua natureza especulativa e memética, transformando a ausência de fundamentos "sérios" em seu principal argumento de valor.

Esta abordagem niilista se manifesta na própria comunidade das memecoins, que cultiva uma cultura de ironia e autodepreciação. Enquanto projetos de altcoins convencionais gastam recursos consideráveis em white papers elaborados e roadmaps tecnológicos, as memecoins prosperam através de memes, piadas internas e uma espécie de anti marketing que paradoxalmente se torna seu marketing mais efetivo. A "honestidade" em admitir que são puramente especulativas e sem nenhuma inovação por trás cria uma forma única de confiança com sua comunidade.

O sucesso de tokens como Dogecoin e PEPE demonstra como este niilismo pode ser surpreendentemente eficaz como proposta de valor. Ao rejeitar a necessidade de justificar sua existência através de inovação tecnológica, as memecoins criam um novo paradigma onde o valor é derivado puramente do capital social e cultural. Esta abordagem representa uma forma de rebelião contra a seriedade do mercado cripto tradicional, onde o meme se torna o próprio fundamento, e a falta de pretensão tecnológica se transforma em sua maior força.

Este fenômeno é particularmente evidente no caso da Dogecoin, que começou como uma paródia do Bitcoin em 2013. O que inicialmente era uma piada interna da comunidade cripto evoluiu para um ativo com capitalização de mercado bilionária, impulsionado principalmente pelo apoio de figuras públicas como Elon Musk. A ironia máxima reside no fato de que, quanto mais a Dogecoin abraçou sua identidade como "apenas um meme", mais valor de mercado ela acumulou. Elon Musk, conhecido por sua afinidade com memes e sua capacidade de mover mercados com tweets, transformou-se no maior embaixador não-oficial da moeda. Sua influência foi tão significativa que cada menção à Dogecoin em suas redes sociais causava movimentações expressivas no mercado. Atualmente, Musk comenda o Departamento de Eficiência Governamental dos Estados Unidos, um cargo prometido por Trump para engajar Musk em sua campanha. Em inglês, este departamento é o Department of Government Efficiency (DOGE).
45d2ade9-b172-42d2-b480-4fec882bf262_888x589.webp Imagem 4. Capa da reportagem da Valor Econômico, quando a Dogecoin havia dobrado de valor após Elon Musk começar a se envolver com a moeda. Fonte: Valor Econômico

O caso da PEPE em 2023-2024 levou este conceito ainda mais longe, demonstrando como uma memecoin pode capturar perfeitamente o zeitgeist do mercado cripto. Sem whitepaper, sem roadmap, sem promessas de utilidade futura - apenas um sapo verde pixelado e uma comunidade dedicada a criar e compartilhar memes. A PEPE gerou bilhões em volume de negociação e valor de mercado simplesmente por ser explicitamente o que é: um token sem propósito além de sua própria existência como meme. Este sucesso demonstrou que, em um mercado saturado de projetos prometendo revolucionar o mundo através da tecnologia blockchain, às vezes a proposta mais atraente é justamente aquela que não promete nada além de sua própria absurdidade.

pepe pepecoin bitcoin memecoin Imagem 5. Meme produzido pela comunidade da PEPE com o sapo Pepe e utilizando um boné com os dizeres “MAKE MEMECOINS GREAT AGAIN” (“faça as memecoins grandes novamente” em português).

Comprar Altcoins para Acumular Mais Bitcoin Faz Sentido?

Muitos investidores do mercado cripto adotam uma estratégia que parece atraente à primeira vista: operar altcoins com o objetivo final de aumentar sua posição em Bitcoin. A lógica é aparentemente simples - aproveitar a alta volatilidade e os movimentos explosivos das altcoins para multiplicar os ganhos, convertendo os lucros em Bitcoin nos momentos oportunos. Essa abordagem se torna especialmente popular durante as chamadas “altseasons”, quando algumas altcoins chegam a apresentar valorizações de milhares de pontos percentuais em curtos períodos. Os traders argumentam que, mesmo que apenas uma pequena parte dessas operações seja bem-sucedida, os ganhos podem ser suficientes para acumular uma quantidade significativamente maior de Bitcoin do que seria possível apenas comprando e segurando a principal criptomoeda. Mas será mesmo que essa estratégia faz sentido?

Uma análise interessante sobre a questão foi realizada pelo Raphael Zagury, que compartilhou uma imagem de um estudo realizado por ele a respeito do tema. No estudo, quase 8.000 altcoins foram analisadas desde 2016 e com apenas 41 delas superaram o desempenho do Bitcoin. Destas, o retorno médio foi 1,46 vezes superior ao do Bitcoin. Por outro lado, 2.635 altcoins não conseguiram superar o retorno de 0,04 vezes do Bitcoin, o que significa que, se você tivesse investido em todas essas altcoins, teria perdido quase todo seu investimento. Além disso, 5.324 dos projetos analisados simplesmente foram a zero e desapareceram do mercado. Esses dados reforçam a ideia de que, ao longo do tempo, a maioria das altcoins não consegue competir com o desempenho do Bitcoin, destacando o risco significativo de investir em altcoins versus a relativa estabilidade e retorno potencial do Bitcoin. c1776138-8a6e-448a-9c59-9a549f11f02d_902x600.jpg Imagem 6. Análise comparativa entre o Bitcoin e as demais altcoins realizada por Raphael Zagury. Fonte: Tweet do Raphael Zagury

A Próxima Altseason

A altseason, ou "temporada das altcoins", é um período no mercado de criptomoedas em que as altcoins (todas as criptomoedas que não são Bitcoin) apresentam valorização significativa em relação ao Bitcoin. Durante este período, investidores geralmente redirecionam parte de seus investimentos do Bitcoin para altcoins em busca de maiores retornos, causando um efeito dominó de valorização nestas moedas alternativas.

Este fenômeno costuma ocorrer após períodos de forte alta do Bitcoin, quando investidores começam a procurar ativos com maior potencial de valorização. Historicamente, as altseasons ocorreram em ciclos, geralmente após o Bitcoin atingir novos máximos históricos e sua dominância de mercado (percentual que o Bitcoin representa do mercado total de criptomoedas) começar a diminuir.

Um dos indicadores mais utilizados para identificar a altseason é justamente a dominância do Bitcoin. Quando esta métrica começa a cair consistentemente, pode ser um sinal de que a altseason está começando. Estes períodos também tendem a ser marcados por alta volatilidade e especulação, podendo resultar em correções bruscas de preço quando o ciclo se encerra.

altseason 2025 2021 2017 altcoin Imagem 7. Gráfico de dominância do Bitcoin desde 2015. As altseasons são caracterizadas como épocas em que a dominância do Bitcoin cai agressivamente, mesmo que o seu preço em dólares esteja subindo, como ocorreu em 2017 com o boom dos ICOs e 2021 com o boom das NFTs e do metaverso.
O Índice de Altseason da Coin Market Cap mostra que atualmente estamos longe de uma eventual altseason. Esse índice usa as 100 principais moedas classificadas no Coin Market Cap (excluindo stablecoins e wrapped tokens) e as compara com base em seus desempenhos de preço em períodos móveis de 90 dias. Se 75% das 100 principais moedas superarem o Bitcoin nos últimos 90 dias, é altseason. Se apenas 25% ou menos superarem o Bitcoin, é a temporada do Bitcoin. Este número calculado é escalonado de 1 a 100 e atualizado diariamente. altseason index bitcoin Imagem 8. Índice do CoinMarketCap que mede se estamos em uma altseason ou não. Fonte: Coin Market Cap

Por que a altseason está atrasada?

Uma explicação a esta pergunta que vem circulando entre a comunidade das altcoins relaciona a altseason com os ciclos de liquidez global, especialmente refletidos no balanço do Federal Reserve (FED, o banco central americano). Esta relação sugere que em períodos de expansão monetária, quando o FED aumenta seu balanço através de políticas de quantitative easing (QE), as altcoins tendem a experimentar valorizações significativas. Por outro lado, durante períodos de aperto monetário e redução do balanço (quantitative tightening), estas criptomoedas alternativas costumam enfrentar pressão vendedora.

Esta dinâmica pode ser explicada pelo comportamento dos investidores em diferentes ambientes monetários. Quando há abundância de liquidez no sistema, investidores tendem a buscar ativos mais arriscados em busca de maiores retornos, e as altcoins, com sua alta volatilidade e promessa de ganhos expressivos, tornam-se particularmente atraentes. Em contrapartida, quando a liquidez se contrai, observa-se um movimento de “fly to safety”, ou "fuga para qualidade", dentro do mercado cripto com investidores preferindo ativos considerados mais seguros.

Seguindo esta lógica, muitos analistas argumentam que a ausência de uma altseason significativa no ciclo atual está diretamente relacionada à política monetária restritiva do FED, que continua reduzindo seu balanço. Existe uma expectativa crescente na comunidade cripto de que, quando o FED eventualmente reverter sua política e voltar a expandir seu balanço, isso poderá catalisar uma nova altseason. Esta visão tem levado muitos investidores a monitorar atentamente o índice WALCL (Weekly Assets: Less Eliminations from Consolidation) como um possível indicador antecedente para o próximo ciclo das altcoins.
4a547f13-ed93-410b-bc87-31cbf8c20486_1600x994.png Imagem 9. Relação entre os ciclos das altcoins (as velas vermelhas e verdes) e o balanço patrimonial total do FED (em azul). O ticker “Total 2” do Tradingview mostra o market cap total do mercado das altcoins e na imagem ele está dividido pelo BTCUSD para obtermos a dominância do Bitcoin. O ticker WALCL é o balanço patrimonial do FED.
da3361fa-46b9-46a7-959f-d89a78268f03_1600x959.png Imagem 10. Relação entre os ciclos das altcoins e o balanço patrimonial total do FED com detalhamento para ajudar a ilustrar para nossos leitores como os ciclos de liquidez estão correlacionados aos movimentos das altcoins.
Os dados empíricos de engajamento digital sugerem que o momento da "altseason" ainda não chegou em 2025. Uma análise das métricas de busca no Google Trends mostra que termos relacionados a altcoins e tokens específicos permanecem significativamente abaixo dos picos históricos de 2021. De forma similar, canais do YouTube e outras plataformas de conteúdo focados em altcoins registram números de visualizações consideravelmente menores em comparação com ciclos anteriores. Esta apatia do varejo é particularmente notável quando comparada ao crescente interesse institucional no Bitcoin através dos ETFs. A ausência do capital especulativo de varejo, tradicionalmente o principal motor das "altseasons", reflete-se na baixa liquidez e volumes de negociação reduzidos em exchanges descentralizadas (DEXs) e em pares de altcoins nas exchanges centralizadas. Este cenário sugere que, apesar da atual força do Bitcoin, o ecossistema cripto ainda aguarda o retorno do investidor de varejo para potencialmente catalisar uma nova temporada de altcoins, o que levanta a questão: haverá uma altseason em 2025?
altseason altcoin youtube views bitcoin Imagem 11. Visualizações de conteúdo sobre altcoins em canais do YouTube. Fonte: Into The Criptoverse

Bitcoin é Escasso, Altcoins Não

O Bitcoin foi criado com uma característica fundamental que o distingue dos outros ativos digitais: sua oferta é limitada a 21 milhões de unidades. Este limite não é apenas uma promessa ou diretriz - está codificado no próprio protocolo Bitcoin de uma forma que seria praticamente impossível de alterar devido à sua estrutura descentralizada e ao consenso necessário para qualquer mudança significativa.
bitcoin supply 21 millions Imagem 12. Gráfico que ilustra o crescimento da oferta do Bitcoin desde o seu lançamento até os dias de hoje. Fonte: Statista
Em contraste, o universo das altcoins apresenta uma realidade completamente diferente em termos de escassez. Enquanto cada altcoin individualmente pode até tentar replicar um modelo de oferta limitada, o ecossistema como um todo representa uma fonte infinita de novas moedas. A facilidade com que novas altcoins podem ser criadas é evidenciada pelo crescimento explosivo em seu número: em 2020, existiam aproximadamente 20 mil altcoins diferentes, mas esse número cresceu de forma tão vertiginosa que a CoinMarketCap a desistir de contabilizar o número total quando este havia ultrapassado os 10 milhões de tokens.
Altcoins bitcoin altseason solana memecoins Imagem 13. Gráfico que ilustra o crescimento da oferta de diferentes altcoins desde 2017 até os dias de hoje. Na imagem, o “m” da escala vertical (20m) está representando a unidade milhões e não milhares. Fonte: @cgrogan, análise publicada no site Dune
Atualmente, estima-se que existam mais de 30 milhões de tokens e a tendência é que este número siga aumentando. Um exemplo da facilidade da criação de novos tokens é o site pump.fun, que permite que seus usuários leigos, que não entendem nada de programação e nem investem muto dinheiro, criem novos tokens em tempo real e sem atrito algum.
1252f6e6-afd2-4a35-8704-807c3c5dd81b_1600x787.webp Imagem 14. Tokens da memecoin ETBILU, criada no site pump.fun pelo usuário @cunhador em janeiro, ilustrando o absurdo deste mercado de memecoins. Fonte: pump.fun
Esta diferença fundamental na natureza da escassez tem implicações profundas para o valor de longo prazo destes ativos. Enquanto o Bitcoin mantém sua proposta de valor como um ativo verdadeiramente escasso no mundo digital, as altcoins como um todo sofrem do problema da abundância infinita. Por mais que uma altcoin específica possa ter sua própria política monetária restritiva, nada impede que surjam infinitas outras altcoins com propostas similares ou supostamente "melhoradas", diluindo efetivamente o valor do ecossistema como um todo. Esta dinâmica se torna ainda mais crítica quando consideramos que todas essas altcoins estão competindo pelo mesmo pool limitado de capital, já que não temos observado entrada significativa de novos recursos no ecossistema cripto. O resultado é uma diluição massiva do valor através da constante emissão de novos tokens, todos disputando uma fatia do mesmo capital disponível.

O mundo das altcoins é fundamentalmente diferente do Bitcoin e o jogo é de soma zero, não focado no longo prazo. A cada ciclo os retornos das altcoins tendem a ser menores, conforme suas narrativas vão sendo esgotadas e os “projetos” falhem em entregar os resultados prometidos. Existe um vetor de direção única que leva pessoas que investem altcoins a passarem a investir somente em Bitcoin com o passar do tempo, nunca o contrário. Adicionalmente, como veremos mais abaixo em maior detalhe, o capital que atualmente vem fluindo para o Bitcoin não fluirá mais para as altcoins, gerando as altseasons.
0ba9ce62-1682-4c63-a8ac-395723f71fca_500x500.jpg Imagem 15. Ilustração dos ciclos das altcoins perdendo valor ao longo do tempo. Fonte: Tweet de Steven Lubka, Head of Private Clients & Family Offices da Swan
Em poucas palavras, Bitcoin pode ser representado pela equação “infinito /21 milhões” enquanto as altcoins podem ser representadas pela equação “infinito - Bitcoin / n (que tende ao infinito)”.

2b18a744-cba4-4e6c-9a5d-6483b7f830a6_376x131.webp Imagem 16: Fórmula matemática que os bitcoiners usam para representar que o valor que o Bitcoin e que as outras altcoins podem alcançar é fundamentalmente diferente.

Capitais de diferentes origem

O padrão histórico dos ciclos cripto sempre mostrou uma sequência característica: primeiro o Bitcoin dispara, atingindo novos patamares de preço, e em seguida ocorre uma rotação de capital para as altcoins, dando início à altseason. Esta dinâmica era alimentada por investidores que, após realizarem lucros significativos com Bitcoin, buscavam multiplicar ainda mais seus ganhos apostando em criptomoedas alternativas que ainda não haviam experimentado valorizações expressivas.

Este movimento era facilitado pela arquitetura do mercado cripto tradicional, onde Bitcoin e altcoins coexistiam nas mesmas plataformas de negociação. As exchanges como Binance e Coinbase ofereciam um ambiente integrado onde os investidores podiam facilmente mover capital entre diferentes criptoativos, com baixo atrito operacional e custos de transação relativamente pequenos.

No entanto, o ciclo atual apresenta uma mudança fundamental nesta dinâmica. O influxo de capital para Bitcoin está ocorrendo principalmente através de canais institucionais, como os ETFs spot recém aprovados e empresas que estão adicionando Bitcoin em seus balanços corporativos, lideradas pela Strategy, novo nome da MicroStrategy, empresa que comprou mais de 478.000 BTCs nos últimos anos. O capital institucional possui características distintas do capital do investidor de varejo e opera em uma infraestrutura completamente diferente do mercado cripto tradicional, com regras, regulações e requisitos operacionais próprios.
5cca5f5a-91c2-4489-ba8b-dac62b878ba2_1600x900.webp Imagem 17. Ilustração de como o existe capital novo entrando no ecossistema do Bitcoin a partir do início de 2024. Fonte: CryptoQuant
Esta nova realidade cria barreiras significativas para a rotação de capital. Um gestor de fundo que aloca recursos em ETFs de Bitcoin enfrenta obstáculos consideráveis para redirecionar esse capital para altcoins - desde questões regulatórias e tributárias até limitações de mandato de investimento. Da mesma forma, empresas que adquirem Bitcoin como reserva de valor corporativa não têm a mesma flexibilidade para negociar altcoins que um investidor individual possui. Como resultado, o capital institucional que está fluindo para Bitcoin tende a permanecer em Bitcoin, potencialmente interrompendo o padrão histórico que dava origem às altseasons.

Outro aspecto crucial deste novo cenário é o comportamento do Ethereum, tradicionalmente considerado a "blue chip" das altcoins e historicamente o primeiro destino do capital durante as rotações de Bitcoin para altcoins. O desempenho relativamente modesto do ETH neste ciclo não apenas reflete a mudança estrutural no fluxo de capital institucional, mas também impacta toda a dinâmica subsequente do mercado de altcoins. Quando o Ethereum não consegue capturar e amplificar o momentum do Bitcoin, isso significa que há menos capital disponível para ser rotacionado para projetos menores, pois tradicionalmente os ganhos obtidos com ETH eram posteriormente direcionados para altcoins de menor capitalização em busca de retornos ainda maiores, criando um efeito cascata que alimentava a altseason.
ETHBTC_2025-02-11_14-05-20.png Imagem 18. Valorização do Ethereum em relação ao Bitcoin desde outubro de 2021, quando o mercado cripto estava na sua última altseason e o Bitcoin atingiu a máxima histórica do ciclo passado.
Vale notar que o mercado cripto atual parece estar se dividindo em duas dinâmicas distintas e quase opostas. De um lado, temos o Bitcoin atraindo capital institucional de longo prazo através de ETFs e alocações corporativas, com investidores buscando uma reserva de valor digital e proteção contra a desvalorização monetária. Este capital é mais "paciente", com horizontes de investimento mais longos e menor propensão a movimentações especulativas de curto prazo.

Do outro lado, o capital especulativo que anteriormente alimentava os ciclos das altcoins parece estar migrando cada vez mais para as memecoins, que representam o extremo oposto em termos de proposta de valor. Enquanto altcoins tradicionais tentam justificar seu valor através de desenvolvimento tecnológico e casos de uso práticos, as memecoins abraçam abertamente sua natureza puramente especulativa, atraindo traders e investidores em busca de ganhos rápidos, mesmo que efêmeros. Esta polarização entre Bitcoin como investimento sério de longo prazo e memecoins como veículo puramente especulativo pode estar esvaziando o espaço intermediário tradicionalmente ocupado pelas altcoins.

Conclusão

A transformação estrutural do mercado de criptoativos a partir de 2024 sugere que as tradicionais "altseasons", características dos ciclos anteriores, podem ter se tornado um fenômeno do passado. A institucionalização do mercado, marcada pela entrada de grandes players financeiros através dos ETFs de Bitcoin à vista e a crescente regulamentação do setor, estabeleceu uma nova dinâmica onde a alocação de capital segue padrões mais conservadores e fundamentados.

A preferência institucional por ativos estabelecidos e regulados, principalmente Bitcoin e, em escala significativamente menor (como tratamos neste Bipa Insights), o Ethereum, via ETFs e criou uma barreira significativa para o tipo de especulação desenfreada que caracterizava as altseasons anteriores. O capital institucional, que agora domina o mercado, demonstra pouco interesse em apostar em projetos especulativos de menor capitalização, independentemente de seus supostos méritos tecnológicos. Esta mudança fundamental na composição dos participantes do mercado sugere que os dias de valorizações explosivas e simultâneas de múltiplas altcoins podem não se repetir na mesma escala.

As memecoins emergiram como uma curiosa exceção a esta tendência, representando explosões isoladas de especulação baseadas puramente em fenômenos sociais e culturais, em vez dos tradicionais ciclos de altcoins fundamentados em promessas tecnológicas. No entanto, estes eventos tendem a ser cada vez mais isolados e efêmeros, não caracterizando uma verdadeira "altseason" no sentido tradicional do termo.

Em última análise, o mercado cripto parece estar evoluindo para um modelo mais maduro e estratificado, onde Bitcoin consolida sua posição como ativo digital dominante, enquanto a vasta maioria das altcoins luta por relevância em um ambiente cada vez mais seletivo e cético. Esta nova realidade sugere que investidores que ainda esperam por uma altseason nos moldes tradicionais podem precisar recalibrar suas expectativas para se adequar a um mercado fundamentalmente transformado.


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