Por que o Bitcoin não está subindo apesar de tanta demanda compradora?

Produzido dia 17 de junho de 2025

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No Bipa Pills de hoje, vamos discutir por que o preço do Bitcoin não está subindo mais, visto a força da adoção institucional que estamos vendo em 2024 e 2025.

Para isso, vamos falar de:

  • A forte demanda institucional pelo Bitcoin em 2025
  • Como o preço continua estagnado
  • Quem está vendendo suas moedas atualmente
  • A dimensão dessas vendas ajuda a entender porque o preço do Bitcoin está estagnado
  • A barreira psicológica dos 100 mil dólares

Então pegue seu café e boa leitura!

A forte demanda institucional de 2025

O ano de 2025 vem sendo marcado por um aumento expressivo na demanda institucional por Bitcoin, consolidando uma tendência iniciada nos ciclos anteriores. Empresas ao redor do mundo estão adotando o Bitcoin como parte de suas estratégias de tesouraria, enxergando o ativo não apenas como reserva de valor, mas também como um posicionamento estratégico diante da desvalorização das moedas fiduciárias.

Esse movimento é visível nas chamadas Bitcoin Treasuries Companies, que passaram a incorporar Bitcoin em seus balanços patrimoniais. Entre os exemplos mais emblemáticos, destaca-se a Twenty One Capital (XXI Capital), uma empresa que nasce com capital da Tether, nome de peso do ecossistema das criptomoedas e Cantor Fitzgerald e Softbank, nomes de peso do mercado do mercado tradicional, que já nasceu com 37,230 BTCs em seu balanço corporativo.

A líder Strategy, anteriormente conhecida como MicroStrategy, segue expandindo sua posição como a empresa pública com maior número de moedas de Bitcoin em tesouraria e em 2025 passou de 446.400 BTCs para 582.000 BTCs em seu balanço.

Outro caso notável é o da Metaplanet, empresa japonesa que tem adotado uma estratégia agressiva de aquisição de Bitcoin. Desde o início do seu processo de acumulação de Bitcoin, a Metaplanet saiu de 0 BTC em maio de 2024 para cerca de 8.888 BTC em junho de 2025. A longo deste intervalo, resultando em valorizações porcentuais ainda mais impressionantes que as da Strategy, como a gráfico abaixo com a valorização das ações da Metaplanet mostra.

unnamed (1).png Fonte: Financial Times

No Brasil, a Méliuz surpreendeu ao anunciar alocações em Bitcoin, reforçando que essa tese não está mais restrita ao mercado norte-americano. No ano, as ações da empresa já se valorizaram mais de 180% devido a esta movimentação pró-Bitcoin.

Mais recentemente, a empresa de mídia ligada a Donald Trump, a Trump Media & Technology Group (TMTG), anunciou uma captação de US$ 2,5 bilhões com o objetivo de comprar Bitcoin e manter o ativo em seu balanço patrimonial. Paralelamente, a companhia também revelou planos de lançar seu próprio ETF de Bitcoin, adicionando ainda mais peso político e visibilidade institucional à narrativa de adoção do ativo como reserva de valor estratégica.

Adicionalmente, diversas outras empresas, incluindo mineradoras, gestoras de ativos e companhias de tecnologia, têm seguido essa direção, transformando 2025 em um ano em que a normalização do Bitcoin como ativo institucional está finalmente ocorrendo.

A adoção corporativa se tornou um vetor estrutural para a expansão e o fortalecimento da rede.

Então por que o preço do Bitcoin não está respondendo?

Apesar da forte demanda institucional por Bitcoin em 2025, o preço do ativo não tem refletido, na mesma magnitude, o volume crescente de compras. É verdade que estamos próximos da máxima histórica, mas considerando o nível de demanda, com aportes bilionários de ETFs, empresas e tesourarias, seria natural esperar uma valorização ainda mais acentuada.

No fundo, estamos vendo um bull market de narrativas e notícias muito maior que um bull market de preço no Bitcoin.

Uma das hipóteses que muitos levantam para explicar este fenômeno é que grandes players estariam realizando aquisições via OTC (mercado de balcão), o que reduziria o impacto direto no mercado à vista. Essa hipótese me parece pouco plausível pois esse efeito pode até atenuar movimentos diários quando grandes instituições realizam aportes no Bitcoin, mas no longo prazo ele não altera em nada a dinâmica do mercado das moedas de Bitcoin se tornarem mais escassas. Os provedores de liquidez das mesas OTC ainda precisam comprar suas moedas em algum momento para repassar elas para os investidores institucionais e isso geraria uma escassez na oferta de Bitcoin em circulação.

Uma hipótese mais controversa, mas que tem ganhado força nos debates, é a do chamado paper Bitcoin — a ideia de que corretoras ou custodiantes, como a Coinbase, possam estar vendendo exposições a Bitcoin sem haver correspondência direta em Bitcoin real. Nesse cenário, haveria mais de 21 milhões de moedas de Bitcoin reivindicadas, o que diluiria artificialmente a escassez do ativo e ajudaria a conter a pressão de alta sobre os preços.

Quem está vendendo suas moedas atualmente?

É o equilíbrio entre oferta e demanda que define o preço das coisas. Então para entender melhor porque o preço do Bitcoin está respondendo da maneira atual às constantes compras institucionais, é necessário olhar também para quem está vendendo o Bitcoin e não somente para quem está comprando.

Baleias:

No ecossistema do Bitcoin, baleias são geralmente definidas como endereços que detêm 1.000 BTC ou mais, embora em alguns estudos o limite seja reduzido para 100 BTC, dependendo do contexto analítico. Essas entidades costumam incluir fundos, empresas, investidores de alto patrimônio e mineradores de grande porte.

Existe uma crença difundida no ecossistema do Bitcoin que movimentações repentinas no preço do ativo são relacionadas a “manipulação” do preço feitas por baleias. Entretanto, vale notar que, desde o fundo do bear market em novembro de 2022, os dados on-chain indicam que a ação média dessas baleias tem sido predominantemente compradora, contribuindo para a acumulação e sustentação dos preços ao longo do atual ciclo de alta.

Em outras palavras, mesmo que pontualmente baleias vendam suas moedas, em médias elas estão acumulando mais e mais Bitcoin.

unnamed.png Fonte: CryptoQuant

Mas se não são as baleias que estão suprimindo o preço do Bitcoin, por que o preço não está subindo? Será que de fato o motivo é que estão vendendo “paper Bitcoin” e agora existem mais de 21 milhões de moedas de Bitcoin?

Usuários comuns:

Existe uma narrativa recorrente no ecossistema do Bitcoin de que os bitcoiners nunca vendem suas moedas. O argumento costuma ser que, uma vez compreendido o valor do Bitcoin, seria impensável retornar ao sistema financeiro tradicional, e que, portanto, ninguém realizaria lucro para então investir novamente em ações, imóveis ou renda fixa.

No entanto, os dados on-chain dos últimos 18 meses contradizem essa ideia: eles mostram que muitos holders realizam vendas significativas quando o preço atinge determinados patamares, evidenciando um comportamento racional de realização parcial e gestão de risco, mesmo entre os mais convictos.

A imagem abaixo compara a evolução da quantidade de moedas de Bitcoin em custódia de grandes investidores (as baleias) e dos pequenos investidores no período entre janeiro de 2024 e junho de 2025. Nela, é possível notar um grande movimento de venda de Bitcoin pelos pequenos investidores no movimento de alta que levou o Bitcoin dos 70 mil para os 100 mil dólares entre novembro e janeiro. Também existe um movimento de venda mais sútil entre janeiro e março, relacionado com o lançamento dos ETFs de Bitcoin no mercado americano.

unnamed (2).png Fonte: CryptoQuant

Dimensão das vendas

De fato, nestes movimentos de alta no início de 2024 (efeito da aprovação dos ETFs) e no final de 2024 (efeito da vitória de Trump na eleição americana), vimos vendas de pequenos investidores* em volumes que se equiparam ao topo dos bull markets anteriores, com mais de 100.000 moedas de Bitcoin sendo vendidas.

* = estamos chamando de pequenos investidores todos os investidores do varejo, que são os investidores com menos de 100 BTCs. Eles são separadas nas categorias peixes (10 a 100 BTCs); caranguejos (1 a 10 BTCs) e camarões (menos de 1 BTC)

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Fonte: Check Onchain

Dando um zoom nas vendas mais recentes, podemos observar que o movimento de venda relacionado a aprovação dos ETFs teve pouca participação dos camarões e dos caranguejos, enquanto que as vendas relacionadas às eleições e ao rompimento dos 100 mil dólares foram feitas por todos os pequenos investidores, peixes, caranguejos e camarões.

Os camarões chegaram a vender quase 40 mil moedas de Bitcoin, enquanto os caranguejos e os peixes chegaram a vender mais de 50 mil moedas cada, totalizando mais de 140 mil moedas de Bitcoin sendo vendidas por estes grupos de investidores.

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Fonte: Check Onchain

A métrica Long-Term Holder Net Spent Supply (Vendas dos Holders de Longo Prazo) mostra o saldo líquido de moedas que saíram de carteiras classificadas como "holders de longo prazo" (tipicamente com mais de 155 dias de inatividade). Essa métrica revela, de forma mais clara, se os holders estão vendendo mais do que acumulando.

Em 2024, os holders de longo prazo venderam mais de 53 bilhões de dólares no movimento de alta relacionado à aprovação dos ETFs de Bitcoin e mais de 80 bilhões de dólares no movimento de alta relacionado às eleições americanas. Por sua vez, as vendas do final de maio e início de junho, quando o Bitcoin ultrapassou os 100 mil dólares, estão significativamente menores e não atingiram nem o patamar de 9 bilhões de dólares, que pode indicar que grande parte da pressão vendedora dos 100 mil dólares já foi absorvida pelo mercado.

unnamed (5).png Fonte: Check Onchain

O marco psicológico dos 100 mil dólares

O Bitcoin vem enfrentando resistência significativa para ultrapassar a barreira simbólica dos 100 mil dólares, e um dos principais fatores por trás disso é o comportamento dos próprios investidores de longo prazo.

Para muitos desses holders, o valor de 100 mil dólares sempre foi percebido como uma espécie de linha de chegada — uma meta pessoal, um marco psicológico ou até um sonho. Ao longo dos últimos ciclos, era comum ouvir frases como: “Quando o Bitcoin chegar nos 100 mil, eu vendo uma parte” ou “Nesse preço, eu mudo de vida”.

Barreiras psicológicas têm um peso enorme no comportamento dos mercados. Números redondos e significativos funcionam como âncoras mentais — pontos nos quais os investidores reavaliam riscos, metas e estratégias. Quando um ativo se aproxima de um valor amplamente antecipado, como 100 mil dólares, muitos se sentem compelidos a realizar lucros, independentemente das condições fundamentais do mercado.

Esse tipo de comportamento coletivo cria resistência real nos gráficos: o preço toca esses níveis e encontra forte pressão vendedora. Não se trata apenas de análise técnica, mas de psicologia humana em ação. Outra barreira psicológica importante que o Bitcoin superou recentemente foi a de 1 trilhão de dólares em valor de mercado, que havia funcionado como topo do ciclo anterior. Atravessar esse marco exigiu volume, confiança institucional e tempo — e sua superação pode sinalizar o início de uma nova etapa estrutural no processo de monetização do ativo.

E afinal, os bitcoiners vendem sim suas moedas de Bitcoin. Eles podem até de fato não vender suas moedas para diversificar novamente seus investimentos ou para comprar realocar na renda fixa. Entretanto, eles (assim como qualquer pessoa) tendem sim querer consumir mais conforme elas se tornam mais ricos e passam a possuir mais opções. Talvez eles não comprem uma segunda casa para alugar, mas trocar de casa, construir um lar maior e melhor com a sua família ou melhorar o padrão de vida faz sentido. Possivelmente estas vendas que estamos acompanhando signifique que existem muitos bitcoiners que viram multiplicações expressivas do seu capital e que agora começam a usufruir mais da vida, deixando o modo franciscano de lado. E essa é uma decisão de consumo, não de investimento.

Tendência futura

O fato de que este segundo momento acima da marca de 100 mil dólares está gerando um volume significativamente menor de vendas pode indicar que grande parte dos investidores de longo prazo — aqueles que planejavam realizar lucros ao atingir esse patamar — já executaram suas vendas. Em ciclos anteriores, muitos bitcoiners estabeleceram metas psicológicas com base em números redondos, como “quando o Bitcoin bater 100 mil, eu vendo uma parte”. Se esses investidores já concretizaram essas decisões, é possível que a maior parte da pressão vendedora associada a esse nível de preço já tenha sido absorvida pelo mercado.

Se essa hipótese se confirmar, ela tem implicações relevantes: a oferta ativa de moedas à venda estaria diminuindo, especialmente entre os holders de longo prazo, que historicamente são os que mais influenciam a dinâmica de escassez do ativo. Com uma liquidez vendedora cada vez mais restrita, mesmo fluxos modestos de entrada de capital — seja institucional, seja via varejo — podem provocar movimentos de valorização mais acentuados.

Essa redução na pressão vendedora sugere que o mercado está mais maduro e resiliente, e pode estar se preparando para um novo ciclo de alta, impulsionado por uma base de holders mais convicta e um desequilíbrio crescente entre oferta e demanda.

Por essa semana é só, bom final de semana e até o próximo Bipa Pills


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